domingo, 26 de abril de 2020

Maré invisível

Começa o dia, o tempo canta sua canção
Um cheiro de café, o som de um caminhão
Já não sei se ouço músicas ou notícias
Tanto faz

Trabalho, casa, casa, trabalho
Pela janela veja a dança dos teimosos
Dos coitados, ignorantes do porvir
Meu coração é quem desaba do quinto andar

Nas perguntas sem fim
De uma criança curiosa
Mora a ansiedade adulta
Que com um fio de esperança
Em frente ao espelho da maturidade
Chora por pura ignorância

Na garganta carrego um nó
Que de teimoso não me deixa engolir
E mesmo olhando para o farol
Vendo a luz que se anuncia
Temo a ponte em que devo passar

Nessa intensa travessia
Que me inspira medo e fervor
Fecho os olhos e caminho
Altivo como um velho navegante
Comandando o meu navio
E me mantendo vivo frente ao terror