quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Julgamento da tristeza

Sequestrei a tristeza um dia
A rendi com minhas armas
Aprisionei com grades bem firmes
Onde não nascerá mais sol para ela

Pus a tristeza sob julgamento
Onde o juíz sou eu mesmo
O júri são meus poemas
E a promotora minhas canções

Deixei a tristeza chorar
Relatou sob holofotes os seus crimes
Lá onde o mundo foi concebido
Iniciou-se a sua romaria

A tristeza me disse que junto com a angústia criou arte
Especializou-se em arrancar lágrimas
Fingiu-se de penas para escrever versos cortantes
Manipulando seus poetas como fantoches

A tristeza relatou com muito orgulho
Que a saudade foi a sua filha mais pródiga
Nasceu do seu casamento com a distância
E criou consigo uma legião de vítimas

Contou-me com muito orgulho
Como conseguiu se transformar em acordes
Em músicas tão belas quanto devastadoras
Em refrões chorosos e redentores

E assim o seu julgamento foi desenrolando-se
Aos poucos fui percebendo
Como a tristeza tinha em si um imenso brilho
E uma devastadora grandeza

A platéia do mundo não existiria
O juri não teria nem nascido
A promotora seria muda
E o juiz desumano acordaria

O tempo passou...

De juiz tornei-me amante
De algoz passei a escravo
De aleijado virei músico
E de tacanha me fiz poeta

4 comentários:

Thiago Fonseca disse...

Lindo demais tecão! Já musicou esse poema?

Thiago Colares disse...

Muito lindo!! Foi um dos que mais gostei!!! parabéns!! Eu vou re-criar meu blog, namoral...
abração

Lali Souza disse...

"Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza. É preciso um bocado de tristeza senão, não se faz um samba, não."

Lindo, lindo, lindo!
:)

Gloria Lemos disse...

completo, ao ler se vêem todos os personagem em pleno tribunal e/ou trancafiados em apenas um ser. Interpretações de cada um....Lindo!!!!