Sequestrei a tristeza um dia
A rendi com minhas armas
Aprisionei com grades bem firmes
Onde não nascerá mais sol para ela
Pus a tristeza sob julgamento
Onde o juíz sou eu mesmo
O júri são meus poemas
E a promotora minhas canções
Deixei a tristeza chorar
Relatou sob holofotes os seus crimes
Lá onde o mundo foi concebido
Iniciou-se a sua romaria
A tristeza me disse que junto com a angústia criou arte
Especializou-se em arrancar lágrimas
Fingiu-se de penas para escrever versos cortantes
Manipulando seus poetas como fantoches
A tristeza relatou com muito orgulho
Que a saudade foi a sua filha mais pródiga
Nasceu do seu casamento com a distância
E criou consigo uma legião de vítimas
Contou-me com muito orgulho
Como conseguiu se transformar em acordes
Em músicas tão belas quanto devastadoras
Em refrões chorosos e redentores
E assim o seu julgamento foi desenrolando-se
Aos poucos fui percebendo
Como a tristeza tinha em si um imenso brilho
E uma devastadora grandeza
A platéia do mundo não existiria
O juri não teria nem nascido
A promotora seria muda
E o juiz desumano acordaria
O tempo passou...
De juiz tornei-me amante
De algoz passei a escravo
De aleijado virei músico
E de tacanha me fiz poeta
4 comentários:
Lindo demais tecão! Já musicou esse poema?
Muito lindo!! Foi um dos que mais gostei!!! parabéns!! Eu vou re-criar meu blog, namoral...
abração
"Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza. É preciso um bocado de tristeza senão, não se faz um samba, não."
Lindo, lindo, lindo!
:)
completo, ao ler se vêem todos os personagem em pleno tribunal e/ou trancafiados em apenas um ser. Interpretações de cada um....Lindo!!!!
Postar um comentário