sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Midas

E se eu deixasse minhas mãos contra seus olhos?
Tintas jogadas sobre o tapete da sala
Marcas de um tempo que não volta mais

Esteja onde for, num beco ou na flor
Leve na memória cada segundo que você afogou
Marcas de um tempo que pensa em voltar

Olhe para dentro e encare Narciso
Se veja no alto de um precipício
Olhe pra baixo e pule sem medo
No mesmo buraco que você me jogou

Mas meu coração é leviano
Finge-se de coitado para ter suas esmolas
Mente e desmente em cada esquina
Como se pudesse socar o mundo em mim

Digo-lhe adeus com uma faísca de remorso
Enxugo minhas lágrimas vadias e indiscretas
Que como um Midas imperfeito e casto
Só não transforma em ouro o seu coração

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Anjos caídos mas erguidos

Hoje não falarei das rimas ricas
Com a sua licença poética
Ergo minha cabeça sob os céus
E abro minha boca anti-ética

Durmo pouco e sonho muito
Eu não sou da sua turma
Eu não sou como você
Eu detesto estar ao seu lado

Os anjos caídos levantaram-se
Imitações baratas das criações de Deus
Poços de arrogâncias e criatividade
Jogam seus anzóis para todas as direções

Então nasce a ganância
Cavalgando em campos livres
De cara pro vento
Sem freio, nem lenço, nem documento

Você acha que eu gosto de estar aqui?
Você acha mesmo que pode controlar sua vida?
Você gosta de brincar de de ser Deus?
Por que não esconde essa sua cara de choro?

Bicos de urubus atirados para todos os lados
Sujando meu doce paladar de fezes
Onde estará você ao fim dessa encruzilhada?
Deus está lá em cima, divertindo-se com nossos destinos

Pouco a pouco os passos se alargam
O suor apresenta-se sobre a sombrancelha
O pulmão começa a doer
Mas a cabeça está direcionada no seu foco

Ao final dessa luta
Não há bem nem mal
Apenas somos nós contra nós mesmos
Numa intenção barata de não mais voltar...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma noite casta e modorrenta
Desencadeou nos teus olhos
Mexeu com instintos hibernantes
Cutucou onça com vara curta

Agora que minhas veias dilataram-se
Meus olhos se encheram de ilusão
Onde derramaremos o suor
Nas mais remotas raias da paixão?

Fundem-se o amoral e o proibido
Deixe-me esquecer a razão dos tolos
Que em suas prisões de hipocrisia
Cravam em nossos peitos penas corpóreas perpétuas

Nego minhas verdades
Corro em direção contrária
Tese, síntese e antítese
Quando terei em minha pele sua volúpia e o seu suor?

Meu dedo em seu gatilho
A pólvora que nos acende é a mesma que nos mata
O estampido do teu orgasmo
É um tiro na cara da minha felicidade

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Menina

Ah! Aquela menina!
Que quando encosto o canto do olho
Sinto um furacão dilacerando minhas costelas

Ah! O sorriso!
Sinto seu arco-íris de pureza
Dando cores aos mais escuros cantos

Ah! Se eu conseguisse
Levá-la para meu mundo
Amá-la-ia como o sol brilha em dias de chuva

Ah! Seu perfume
Que adoça meus pulmões
E enche minha triste carne de alegria

Ah! Sua boca!
Onde moram os meus mais eróticos desejos
E faz minhas veias dançarem dentro de mim

Ah! Sua inocência
Que como estrelas jogadas ao infinito
Pulveriza a minha timidez e me entorpece

Ah! A sua voz!
Que canta e encanta os meus ouvidos surdos
Que eleva e me leva aos sonhos de Eva

Ah! A realidade
Que a torna tão imprópria e arrogante
Que extermina jardins cultivados para sua beleza

Ah! Suas atitudes
Que me matam de compaixão
Ao se desdizer enquanto bela

Ah! Seus maltratos
Que como seca no sertão
Acaba com as vidas mais belas da natureza

Ah! Suas palavras de fel
Emudecem os corações tão puros
Enfeia as almas mais graciosas

Ah! Seus olhos tristonhos
Cortam meu coração como pudim
Enquanto vagarosamente petrifica e apodrece o seu

Pobre menina bela
Assim como um conto de fadas
És tão bela como as ninfas
E tâo feia como as madrastas