quinta-feira, 23 de abril de 2009

Anjo feio

Olha só a cara de vocês!
Agora os sorrisos e aplausos nasceram!
Nos mesmos rostos de onde partiram
Aquelas flechadas venenosas

Olhá só os olhos de vocês!
Pedras teimosas e tenazes
Que me forçaram a esculpir
A beleza do meu coração

Olha como vocês estão surpresos!
Foram apenas dois minutos
Que transformaram minhas rugas em lágrimas
Pois eu sonhei o meu sonho para vocês

Quem são vocês, afinal?
Acham que vão colocar goela abaixo o que vocês querem?
Será que o que sinto não irá comover mais vocês?
Ou apenas o brilho de Narciso os interessa?

Mas tudo bem! Eu entendo suas verdades
Não são as minhas, mas mesmo assim os entendo
Vocês precisam quebrar alguns espelhos
E perceber que a estrada é mais longa do que os olhos dizem

Agora parem de chorar
Apertem minha mão
Olhem nos meus olhos
Eu estou pronta para ser vaiada novamente...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Os melhores dias para se comprar guarda-chuvas são os dias de sol...

Outros mundos, nossos mundos

Nunca fui um daqueles meninos
Que precisava de muita atenção
Aprendi desde cedo a me virar sozinho

Mas os dias chuvosos ficam estranhos
Pois o mundo muda de maquiagem
E nos mostra uma outra face

Esse mundo que nos cobra o que não dá
Sua única chance normalmente é a última
Sua vontade verdadeira não parece comovê-los

Vivemos nessa máquina moedora
Rolo compressor desse amor que deveríamos exprimir sempre
E como andorinhas orgulhosas tentamos frear as engrenagens

Então vamos lá! Levantemos das poltronas
Vamos nos munir de arte, sabedoria e vozes
Pois somos filhos de soldados cansados

Nossa vontade tem que mudar alguma coisa
Nossa vocação talvez seja o dedo de Deus nos apontando para a direção correta
Onde talvez possamos modificar ao menos um desses milhões de mundos

Mundos? Do que você está falando?
Estou falando das mãos estendidas, dos abraços sinceros, dos beijos apaixonados
E de todas as balas e bombas que os noticiários nos jogam na cara

São todos traços dos outros mundos
Aqueles que nos interceptam ou não

...

Na verdade todos eles nos interceptam...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sim

Vem, me diz agora qual caminho tomar
O vinho velho derramou no mar
E o meu pão mofou e se perdeu

Vem, me conta agora se não somos irmãos
Teu cheiro entranha no meu coração
Conta-me como pode partir sem mentir

Sempre fui aquele tolo amante
Que acreditou no teu falso semblante
E me perdi eu teu tão pouco amar

Se a realidade dói e me destroça
Se respirar ainda me provoca
Quero tuas belas mentiras de volta pra mim

Se os meus olhos não brilham como o sol
A tua luz não serve mais de anzol
Me diz agora como vou viver

E eu, leviano como uma criança
Amargurado pela sua dança
Acordei preso em tua armadilha

Hoje sento-me ao companheiro violão
Dedilho dores de nossa paixão
Sem esperanças de te ver voltar

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Soa luz

Sou eu a mais temida
A evitada, a famigerada
Aquela que muitos levam como o fim

Sou eu a destrutiva
Mar onde o rio da vida deságua
Maré de ondas que não voltam

Sou a cobrança da vida
Aquela que não devolve o troco
E só cobra uma vez

Sou eu quem te faz amar seus filhos
Irmãos, amigos e companheiros
Sou o elo entre os corações humanos

Sou eu quem te faz sentir piedade
Combustível primordial para a benevolência
Maquinário básico da evolução

Sou eu quem te faz chorar
Ter medo do não ter mais aquilo tu amas
E te traz cautela nos teus atos mais ousados

Sou aquele aperto no peito
Quando beijas todos que ama
E te faz apertar os abraços nas despedidas

Sou eu quem te enxuga a lágrima
Após passar diversas vezes por mim
E trago beleza extrema à vida

Sou a luz mais brilhosa
Branca, pura e direta
Sou a morte que paira em seus olhos
Sou a filha mais pródiga de Deus

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Rédeas

Perdi as rédeas de vez
E lá vou eu sendo piegas mais uma vez
A vida e suas curvas perigosas
Nessa estrada cheia de armadilhas

Perdi as rédeas de mim
Tolo eu, como se alguma vez as tivesse nas minhas mãos
Tentando mudar a direção do trem
Indo dormir com medo do escuro

Dormir? Em que cama?
A minha apenas exala o meu suor
Pois nosso cheiro juntos
Aquele embriagante já se foi

Esquisito é sentir que o elo se fortalece
Quanto mais a distância se perdura
E essa tal de dor que a saudade finca no peito
É o meu amor gritando aqui dentro que anda mais vivo do que nunca!

A saudade é o remédio mais amargo do mundo
Remédio disse eu? Oh Deus!