domingo, 28 de dezembro de 2008

Às vezes o melhor a fazer é guardar o sorriso no bolso e esperar o bloco passar...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

São eles

São os sonhos prometidos
Que a gente tem que sorrir
São as promessas malditas
Que a gente tem que cumprir

São as mortalhas diárias
Que a gente tem que vestir
São os discursos imundos
Que a gente tem que ouvir

São os sapatos apertados
Que a gente tem que calçar
São as conversas cortantes
Que a gente tem que aturar

São as pessoas pequenas
Que ainda não sabem viver
São as palavras mais ácidas
Que a gente tem que dizer

São as vontades carnais
Que a gente tem que suprir
São as meninas vadias
Que a gente tem que cuspir

São as comidas insosas
Que a gente tem que engolir
São os muros tardios
Que a gente tem que demolir

São os olhos afiados
Que a gente tem que temer
São todas as nossas defesas
Que a gente tem que ceder

São os lucros gritantes
Que a gente tem que buscar
São os cabelos brancos
Que a gente tem que pintar

São as crianças choronas
Que a gente tem que amamentar
São os corações aflitos
Que a gente tem que acalentar

São todos os versos chorosos
Que a gente tem que recitar
São todas as canções
E o que elas tentam nos mostrar

São todas as notas melódicas
Que a gente tem que cantar
São os sorrisos sinceros
Que a gente tem que abraçar

São as migalhas da vida
Que nos fazem amar
São os dias chuvosos
Que a gente ri para não chorar

São pelos mitos criados
Pra gente ter que temer
São pelos cães mais ferozes
Que a gente tem que correr

São pelos falsos faróis
Que a gente tem que apagar
São pelas almas pequenas
Que a gente tenta fazer brilhar

domingo, 14 de dezembro de 2008

Medo do chão

O vento soprando contra o meu rosto
Por ser indício de bons frutos
Ou a força do ar na queda livre

Tenho olhado para os lados e ficado com medo
Os conselhos dos poetas mortos já não me fazem tanto sentido
Será que estamos vivendo a época do "quanto mais louco melhor"?

De que vale tanta sinceridade? Por que tanta incerteza?
Existe caminho para a felicidade?
Ou a felicidade é mesmo uma arma quente?

Parecem mesmo dúvidades de um adolescente descobrindo a vida
Mas é assim mesmo que tenho me sentido
Tenho me sentido sem sentido

Às vezes acho que estou voando
E ando cuidando bem de mim
Só que talvez reparando bem eu já esteja caindo

Vão dizer que eu sou louco
Vão dizer que eu não tenho razões
Acho que ando refém da minha cabeça

Ou não...

Tenho muito a dizer
Coisas sobre todos nós
Mas parece que ninguém quer ouvir

Grito, grito, grito com todas as minhas forças
E até mesmo força que não tenho
Mas acho que meu canto não encanta ouvidos surdos

Tem brotado em meu peito
Uma inveja que nunca senti antes
E isso me faz me sentir o pior homem do mundo

Talvez, caro leitor, você esteja imaginando
Que escrevo para lhe arrancar palavras de incentivo e condolências
E você não faz idéia de como eu gostaria que você estivesse certo...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

É meu irmão...

É Edílio, e agora meu irmão?
Enxuga essas lágrimas com calma
Pois é uma conversa complicada de se ter
Depois de tanto tempo sem a gente se encontrar

Eu sei que conselhos não são bons guias
Cada um deve procurar ouvir a sua intuição
Mas você sempre procurou os caminhos mais curtos
E não quis aprender com as migalhas da vida

Tantas vezes te vi usando seu rosto bonito
Para ser idolatrado como um Deus oco
Só que a vida não se importa com os teus olhos
É na alma que ela gosta de tocar

Às vezes, quando nos surdamos por vontade própria
Ficamos alheios aos principais caminhos
Passamos por cima daquilo que cultivamos por toda a eternidade
Nosso brilho vital

A carne pode até ser saborosa
As mulheres devassas, as bebidas confortantes
As drogas aliviantes, os sorrisos insossos
O universo mais superficial

Mas cá pra nós Edílio
Ergue essa cabeça
A vida não pára porque você a judiou
Ainda assim ela quer te dar a mão

Pensa como anda seu coração
Esquecido junto com as cinzas do teu cigarro
Trata-o com a mais tenra compaixão dos teus olhos
Exercita a paciência e retrata-te o resplendor

Talvez o segredo do sucesso
Esteja em saber aguardar que os bons frutos venham a nós
Mas também tenha a sabedoria e inteligência
Para da melhor forma plantar e regar...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Como eu gostaria que elogio enchesse barriga...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Súplica e redenção II

Não quero isso dentro de mim
Eu não sou assim
Mesmo que os anciãos me digam o oposto
Guardo meu diamante com carinho

Mantenho meus pés firmes na estrada
Os meus olhos de águia são o meu farol
As cicatrizes ardem mas o couro é grosso
Creio em minha alma mais que na própria beleza

Os ombros pedem arrego às vezes
Mas só Deus sabe o quanto que eles aguentam
Tenho mantido minha cabeça erguida
Mesmo às vezes sentindo arder a navalha na carne

Temo ter abalado minha humildade
Às vezes me sinto cego pelas minhas verdades
Mas como em toda verdade, ela tem um limite de alcance
Então me pego falando verdadeiras mentiras

Os cães estão espumando quando ladram
A adrenalina decola em minhas veias
Sinto o meu instinto se contorcendo
Mas sou mais forte, mais forte, mais forte

Ainda acredito nos meus sonhos
Busco um norte incrédulo porém redentor
Sou o que sou, só mudo quando a vida quer
Morro triste, mas morro poeta

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Para cada passo, aplausos e pedradas
Para cada dúvida, alguns caminhos tortos
Para cada caminho torto, uma bússola sem norte
Para cada norte há um sul bem melhor...

domingo, 9 de novembro de 2008

Por baixo

Amargo, cinza e feio
Chato, monótono e doloroso
Impiedoso, cansado e pulsante

Indelicado, tenaz e inerte
Indeciso, afiado e silêncio
Propulsor para quem tem olhos afiados

Esse é o sabor da derrota...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Para o homem da minha vida

É pai
O tempo passou tão rápido
Ainda ontem eu corria com os pés no chão
Hoje sou o homem que nasceu dos teus olhos

Aquele menino que nasceu amarelo
Hoje procura desatar os nós da vida
E sente as mesmas aflições que você
Eu entendo sua alma

Essa noite pode descansar
Deixe que meus ombros pesem para você
Afinal a distância não abalou nossa amizade
Eu te amo acima de qualquer suspeita

Obrigado pelas datas que você não esteve aqui
Ainda que o medo tenha nascido e as lágrimas surgido
Ainda que som do coração tenha ensurdecido
Eu sentia você aqui dentro

Chora comigo pai
Deixa essa imagem de durão para depois
Eu consigo enxergar seu coração
Sou seu filho, seu amigo, seu irmão

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Não sei

Não sei o que sou
Mas sei o que quero
Não se eu sou
Mas eu vou atrás

Não sei se somos o que pensamos
Mas tentamos a todo custo
Não sei se o som convence
Mas tocamos porque amamos

Não sei as cifras vêm
Mas usamos nossa coragem
Não sei pra onde o sonho navega
Mas assim mesmo sonhamos sem os pés no chão

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Mulher Feminina

Eu quero uma mulher feminina
Que saiba usar toda a magia de sua tenra natureza
Que saiba ser forte para as armadilhas da vida
E que seja frágil e pura quando bela nos meus braços

Eu quero uma mulher feminina
Daquelas especialistas em me deixar bobo
Que tenha em seu cangote um perfume de mil amoras
E no ventre as brasas do olho do sol

Eu quero uma mulher feminina
Que tenha nas mãos o dom de me reerguer
Quando meu corpo perece e cede à exaustão
E que guarde no sorriso o brilho do amanhã

Eu quero uma mulher feminina
Que saiba exatamente onde mora minha fraqueza
Que faça dela sua moradia eterna
E derrame seu poder em minhas veias

Eu quero uma mulher feminina
Que nas noites mais frias da Sibéria
Juntamente com o calor da brasa da lareira
Busque incessantemente meu corpo e meus lábios

Eu quero uma mulher feminina
Daquelas que sabem arrancar uma alma pelos meus olhos
Que com um simples semblante me torna um Deus
Que com um singelo toque me transforme num tornado

Eu quero uma mulher feminina
Que suporte o peso da vida
E que mesmo com as tempestades
Me tenha como eterno e único amante

Eu quero uma mulher feminina
Que mesmo com toda alma e vigor
Que mesmo com toda força e coragem
Saiba deixar-se em meu colo e chorar de amores...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Súplica e redenção

Preciso de choques
Choques que me reanimem
Que me façam sentir volts correndo pelas veias

Socorro! Preciso gritar
Sentir a energia de uma multidão
Abrir as asas e voar forte
Bater de frente com um furacão

Venha, me dê a mão
Pule forte e venha comigo sentir o mundo
As cores que desenham os sorrisos
As lágrimas que jorram de felicidade

Preciso urgentemente de guitarras
Sutilmente enfurecidas
Fluindo e fundindo-se com o desabafo
O desabafo dos corações emocionados

Decreto o fim do tédio
A morte da morte
O nascimento do primeiro acorde
E à conquista de todos os sonhos

O show tem que continuar...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Tem dias...

Tem dias que acordo com vontade de tocar Vinícius no violão
Tem dias que acordo com vontade de fritar um Foo Fighters na guitarra
Tem dias que invento melodias loucas em músicas loucas com o violino
Tem dias que nada me separa do corpo da minha mulher

É hora de afinar nossos instrumentos...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Descobertas

Primeiro descobri que aqueles vultos
Que passavam na minha frente
Eram os meus braços e as minhas mãos

Com o tempo entendi
Que eu poderia sobreviver uma tarde
Sem ficar com minha mãe

Descobri então que o mundo dos adultos
Era cheio de conflitos e desinteressante
Muito complicado

Um belo dia descobri que eu podia
Ainda com muito peso na consciência
Questionar tudo aquilo que me era "lecionado"

Aí comecei a entender que o bilhete apaixonado
Quando entregue a uma menina bonita
Poderia ser motivo de chacota

O tempo foi passando e aos poucos fui percebendo
Que as pessoas sabiam mentir muito bem
E conseguiam me enganar com muita facilidade

Ainda lembro do dia que a ficha caiu
Eu não precisava mais ser uma pessoa que eu não era
Apenas para participar de uma turma de "amigos" qualquer

Foi muito, mas muito complicado
Aprender e compreender que nossos pais
Erram e erram feio. Assim eu poderia discordar deles

E isso é muito natural. Acho que eles que não entenderam...

Bom,
Num dia desses consegui internalizar
Que a beleza de um grande amor só é brilhante
Quando a liberdade e o respeito são soberanos

Entendi também que nenhum político vai construir o país dos meu sonhos
E nada vai acontecer de positivo se as pessoas não mudarem de postura
"Nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça"...

Foi difícil, mas aprendi que melhor que nadar contra a maré
É ajustar o leme para direção que você quer ir
Mesmo que isso torne seu caminho mais longo
Acho que é o único jeito

Ainda assim minha vida segue
Repleta de novas lições a cada movimento do ponteiro do relógio

Como estarei eu aos 80 anos, depois de uma vida repleta de descobertas?

sábado, 19 de julho de 2008

Sofia

Hoje eu consigo entender
Essa paz que mora em seus olhos
Meu coração aperta forte
Quando sinto seu sincero abraço

Quando os conflitos se apresentam em sua casa
É bom parar para respirar um pouco
Pois sua alma é maior que outros gritos
E você ainda terá muito o que ensiná-los

Não sei bem se sou o melhor conselheiro
Ou se conseguirei conforta-te em meu colo
Mas assim que o pranto brotar em seu lindo rosto
Certamente terá minha mão ao seu alcance

Se ainda assim duvidas daqueles que te acolhem
Quando a violência sobrevive à flor
Cabe a ti ensinar-lhes a harmonia
E deixa-te que a vida os amansará

Sinta e viva o seu amor próprio
Mesmo quando os ombros cansarem
Corra para meus braços
Pois eternamente serás minha pequena Sofia...

sábado, 12 de julho de 2008

Boa noite, mãe

Boa Noite, mãe
Dorme com os anjos
Fica mais calma agora
Pode parar de chorar

O tempo tem sido um companheiro pra mim
Talvez nem tanto para você
Na verdade eu acho que ele foi companheiro sim
Mas amizade é uma seta de duas pontas...

Dorme com carinho, mãe
Senão o bicho papão te pega
Não, não! Não é do passado que estou falando
Tampouco do que carregas no peito

Sabe, mãe, eu tenho andado muito nervoso
Esse mundo é tão inconstante
Quando a gente pensa que pode voar
Esquece a tenacidade do chão

Pois é, mãe, aí é que o risco aumenta
O medo de chorar pode me tornar duro
Tenho medo de não conseguir escrever mais
Ou de parar de produzir músicas que te façam sorrir

Mas assim é a vida, mainha
A gente vive achando que ela cobra
Um monte de coisas da gente
E esquece do quanto que a gente cobra dela

Talvez eu não seja uma sala de estar
E nem você um salão de festas
Mas talvez mesmo cada um ao seu estilo
Possamos juntos numa mansão morar...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Titãs

"Nem sempre se pode ser Deus
Por isso que estou gritando!!!"

...

Adoro me deitar no chão
E ficar horas vendo os prédios caminhando...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O dia que mais chorei

O dia que mais chorei foi quando senti o oxigênio nos pulmões
O dia que mais chorei foi quando descobri que minha irmã quebrou meu boneco do he-man
O dia que mais chorei foi quando rasguei meu pé no escorrega do prédio
O dia que mais chorei foi quando descobri que Deus castigava

O dia que mais chorei foi quando com rosas na mão recebi meu primeiro não
O dia que mais chorei foi quando meus colegas zombaram de mim por ter pedido uma menina em namoro
O dia que mais chorei foi quando vi meu melhor amigo roubando um boneco
O dia que mais chorei foi quando me obrigaram a rezar

O dia que mais chorei foi quando vi o Bahia perder de 4x0 pra o Vitória
O dia que mais chorei foi quando tomei pontos no pé esquerdo
O dia que mais chorei foi quando ouvi Beatles de verdade
O dia que mais chorei foi quando meu pai me chamou de melhor amigo

O dia que mais chorei foi quando torci o pé num campeonato do colégio
O dia que mais chorei foi quando toquei violão em público pela primeira vez
O dia que mais chorei foi quando dei meu primeiro beijo
O dia que mais chorei foi quando minha avó morreu

O dia que mais chorei foi quando tive meu primeiro término
O dia que mais chorei foi quando assisti Lisbela e o Prisioneiro
O dia que mais chorei foi quando fui à Chapada Diamantina
O dia que mais chorei foi quando fiquei bêbado apaixonado

O dia que mais chorei foi quando vi o público chorar ao refrão de uma música minha
O dia que mais chorei foi quando entrei na gruta azul
O dia que mais chorei foi quando você entrou na minha vida
O dia que mais chorei foi quando você chorou...

O dia que mais chorei foi quando meu filho nasceu
O dia que mais chorei foi quando minha banda tocou para 20 mil pessoas
O dia que mais chorei foi quando meus pais se foram
O dia que mais chorei foi quando meu sonho se fez verdade

O dia que mais chorei foi quando minha filha engravidou
O dia que mais chorei foi quando minha empresa faliu
O dia que mais chorei foi quando li O Pequeno Príncipe
O dia que mais chorei foi quando o sol se pôs

O dia que mais chorei foi quando parei de chorar
O dia que mais chorei foi quando entendi as pessoas
O dia que mais chorei foi quando sem forças dei meu último adeus
O dia que mais chorei foi quando minha vida começou...

Natália

Natália está com medo
Ela se sente acuada
Aqui está tão quente
O silêncio é a verdade

Natália está tensa
O fim está próximo
Ela que nunca vira a luz
Sentiu-se cega e impotente

Natália sente o adeus
Algo está errado
Muito sons a apavora
Ela sente seu corpo sendo sugado

Natália não entende
Tamanho ato de estupidez
Ao morar onde a vida se concebe
Fez-se lápide o berço da vida

Natália não está mais só
Agora está acolhida
O pânico pereceu após a dor
Sob a luz definha seu último suspiro

Natália não deveria morrer
Pois sem opção a sua vida foi negada
Interrompida sem sequer ser consultada
E sua vida resumida a três meses de inocência

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Menino tímido

Ainda escrevo uns versos tristes
Enquanto o sol me vê chorar
O mundo dorme, o mundo sóbrio
E eu tão vivo a desesperar

É tão difícil para um garoto
Entender o coração
Que tanto pede pra amar
Que tanto sofre inquietação

Sigo os teus passos, meu amor
Sem saber sequer que aqui estou
Sigo o teu cheiro, meu amor
Aroma ingrato, venoso torpor

Como eu queria construir
Cada tijolo da nossa felicidade
Só que as palavras que recito para o espelho
Me deixam nu frente a sua face

Sou só um garoto aos dezesseis
Fantasioso e inocente
Inventando uma paixão toda torta
Tentando cantar o que mais me sente

E ao te ver longe de mim
Nos braços de um rapaz de carro limpo
Choro copiosamente sorrindo
Enquanto a coragem me joga no limbo

Tento te trazer à vida que eu construi
Mas a timidez estala seu chicote nas minhas costas
Me põe mordaças rígidas e amarras de couro
Cega os olhos onde o seu brilho nasceu

Até pensei em abdicar da vida
Já que não aprendi a viver sem teu calor
Mas achei que estaria matando a pessoa errada
Pois nessa dor que sinto só quem perde é você

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A máquina dos defeitos

Choc, choc, choc
Roda a máquina dos defeitos

O lado B, o canto das sombras, o podre
Tudo que estás a esconder
Jogado no limbo da indiferença
Agora sendo montado como engrenagem

Choc, choc, choc
Gira a máquina dos defeitos

O que me causa vergonha
O que me deixa vermelho
O que me joga pra trás
O que me faz humano

Choc, choc, choc
Monto a máquina dos defeitos

A lenha é a sua face nua
As rodas são os meus pontos fracos
As roldanas são os nossos conflitos
A locomotiva é o cotidiano

Choc, choc, choc
Vamos todos curtir a máquina dos defeitos

Sente-se num banco sem foco
Deite-se sobre o meu perfeccionismo
Dance sobre a sua inércia
Coma em cima da exigência

E os trilhos? Pra onde nos levarão?

terça-feira, 6 de maio de 2008

O que?

O que você faz quando a noite cai?
O que você deseja quando passa um cometa?
O que você esconde dentro do seu quarto?
O que você pensa quando está sozinho?

Quais são as palavras que você evita dizer?
Quais são as atitudes que você quer tomar?
Quais são as opiniões que você não quer compartilhar?
Quais são os medos que afloram quando você começa a chorar?

Onde está a sua gana que insiste em hibernar?
Onde está sua coragem quando a dor começa a incomodar?
Onde está sua razão quando o tédio começa a reinar?
Onde está o seu brilho quando tentam te ofuscar?

Como você consegue viver sem os problemas enfrentar?
Como você dorme com o mundo querendo se matar?
Como você ri se as pessoas têm penitências a pagar?
Como você se acalma estando totalmente perdido nesse mar?

São perguntas cujas respostas
Que você não deve exteriorizar
Deve apenas olhar para os lados
Sentir o sangue nas veias
Levantar a sua vela
E sua vida continuar...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Elogio

Hoje eu nasci feliz
Alguém me rasgou um elogio
Mas não foi alguém qualquer
Foi uma pessoa tão sensível quanto eu

Só me perco entre meus pensamentos
E começo a sentir o peso das minhas escolhas
Quando elas saltam na minha cara
Um tremolo dispara no meu coração

Quando o mundo começa a te escutar
Suas palavras dançam na cabeça de todos
E alguns deles podem ouvir seus conselhos
Mas quem é você para dar conselhos?

Tá! Tudo bem, não são conselhos
Podemos chamar simplesmente de poesia!
P-O-E-S-I-A

Tá certo então... Música!
Vá lá...

Hoje o meu dia está com cores diferentes
Meu coração está literalmente entre a cruz e a espada
O foco do holofote está se aproximando
Será que estou preparado para recebê-lo?


O que você faria se o mundo inteiro te pudesse ouvir?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Julgamento da tristeza

Sequestrei a tristeza um dia
A rendi com minhas armas
Aprisionei com grades bem firmes
Onde não nascerá mais sol para ela

Pus a tristeza sob julgamento
Onde o juíz sou eu mesmo
O júri são meus poemas
E a promotora minhas canções

Deixei a tristeza chorar
Relatou sob holofotes os seus crimes
Lá onde o mundo foi concebido
Iniciou-se a sua romaria

A tristeza me disse que junto com a angústia criou arte
Especializou-se em arrancar lágrimas
Fingiu-se de penas para escrever versos cortantes
Manipulando seus poetas como fantoches

A tristeza relatou com muito orgulho
Que a saudade foi a sua filha mais pródiga
Nasceu do seu casamento com a distância
E criou consigo uma legião de vítimas

Contou-me com muito orgulho
Como conseguiu se transformar em acordes
Em músicas tão belas quanto devastadoras
Em refrões chorosos e redentores

E assim o seu julgamento foi desenrolando-se
Aos poucos fui percebendo
Como a tristeza tinha em si um imenso brilho
E uma devastadora grandeza

A platéia do mundo não existiria
O juri não teria nem nascido
A promotora seria muda
E o juiz desumano acordaria

O tempo passou...

De juiz tornei-me amante
De algoz passei a escravo
De aleijado virei músico
E de tacanha me fiz poeta

quarta-feira, 19 de março de 2008

Não há coisa pior no mundo do que ver uma lágrima no rosto de quem se ama. Aquela gota despretensiosa desce no coração como uma navalha afiada, jogando artérias e veias para cima, divindo ventrículos como pudim... Nesse momento não importa mais de quem foi a culpa. Não importa o motivo, não importa o problema. O único sentimento que fica é o amor mais puro e visceral. Aquele que te impulsiona a abraçar o ser amado como quem abraça o mundo em dias de sol. Um abraço sem mágoas, sem conceitos nem pré-conceitos, um abraço de pai. Ou de mãe. Ou dos dois... Que coisa estranha é o amor. Une o céu e o inferno em segundos, devasta países e promove a indêpendência em minutos. Bom, apenas um pedido de desculpa proferido levanta a bandeira branca. O nó na garganta se desfaz, o corpo pára de tremer, os olhos umedecem novamente e o beijo brota com um sabor inigualável de saudade.

Quando duas pessoas se amam de verdade elas SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE querem o melhor uma para a outra. Afinal de contas as duas almas estão eternamente se fundindo. Logo não há como desejar nem causar o mal a si mesmo, já ambos formam apenas um.

Posso parecer piegas, mas como eu mesmo disse nesse mesmo blog há algum tempo, "O amor é piegas, o amor é brega (...) O amor é a minha cueca furada!".

Quem nunca errou que atire a primeira pedra.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Terra de cantos, encantos e axé

Vamos à festa!
Vamos sorrir ao som do trio elétrico
Vamos beber e brindar à alegria
Vamos profanar

Aqui onde o poeta estendeu a mão
Onde o sol cheio de graça sorri
Palco principal do show da dialética
Cujos atores pensam que atuam para si

No terreiro do sincretismo
Onde a tacanhice brota por segundo
O primitivo se desbarranca sobre a avenida
E o confete molha o rosto de suor

No litoral onde o futebol é rei
E a ambição vive nas masmorras
Reina o coronel absoluto
E com seu único olho amarra os cegos da baía

No coração do nordeste
Convivem harmonicamente a inveja e a cerveja
Aqui onde o país limpa a bunda
Sobram mulatas e a libido aflora

No mundo onde arte é o cotidiano
E o sorriso esconde a miséria com louvor
Sigo a vida alheio aos teus valores
Pois lá no coração do baiano é que mora a minha dor

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Elipê

Apenas uma banda de rock
Algo mais que uma banda de rock
Uma banda de rock
Rock... Música...

Apenas cinco músicos
Algo mais que cinco músicos
Cúmplices, irmãos, guerreiros
Músicos... Música...

Apenas canções são cantadas
Algo mais que canções
Sonhos disseminados e distorcidos
Letra... Música...

Elipê
Emoção, verdade cifrada
Doce e amargo com peso
Lágrimas e sorrisos descompassados

Música... música... música...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Farsa

Quem disse que eu sou o que pensa que sou?
Quem disse que penso ser o que realmente sou?

Poeta? Compositor? Artista?
Farsa! Uma total farsa!

Escrevo por medo da verdade
Escrevo para me esconder de mim
E de você também!

Escrevo para fugir da realidade
Escrevo para fingir a realidade

Tento comparar-me aos grandes letristas
Deito-me sobre minhas mentiras
Maqueio a dor e a dúvida
Conforme queira ou não queira

Meu acordes me soam dissonantes demais
Talvez até mesmo desafinado eu seja
Cuspo música no chão por conta da minha
Tuberculose sentimental

Choro e rogo uma pista
Um norte, uma direção

Hoje estou de saco cheio
Quero um cigarro, uma cerveja e a solidão

Não espere rimas de mim. Não espere a sétima maior.

Hoje só o silêncio é o meu amante

O homem que sabia demais

Era uma vez um homem
Que passeou por toda vida sobre o conhecimento
Um homem sábio sob a luz dos filósofos
Um homem-dor sob a ótica dos poetas

Este mesmo homem aprendeu a pensar
Calcular, projetar, especular
Levantou estruturas, curou doenças
Transformou concreto em poesia

Este homem de teorias repletas
Pensamentos e conceitos relevantes
Pôs em sua mente brilhante
Enciclopédias de uma vida errante

Deu-se conta ao encontrar a velhice
Que não se pode abraçar caminhos rasgados pela vida
Para curar-lhe a curiosidade viva
Abriu mão da vivência altiva

Trocou beijos por poemas líricos
Cultivou prêmios sobre as amizades
Enriqueceu-se de fama, ouro e orgulho
E deixou a cultura o transformar em criatura

Então esse homem adoeceu em seu leito solene
Por dias sangrou letras e versos
Suou verbetes, secretou teorias
E quando sucumbiu não ouviu os aplausos de outrora

Com tamanha carga intelectual
Bateu na porta de Deus
Caiu de joelhos e chorou
Sob os pés do seu criador

Levantou-se devagar
Quase sem força pôs-se a perguntar
"Ó Deus! Ensina-me qual a importância do conhecimento
Se a vida não nos deixa sonhar"

Então ouviu cabisbaixo
Aquela voz lhe falar
"Viveste tua vida conduzida pela razão
E esquecera que o amor à soberania sempre o levará"

Endagou-se aos prantos
Em sua tamanha ignorância
"Eu não sou poeta!
Sou apenas um manipulador de palavras!"

Chorou copiosamente entre os dedos
E percebeu ao arder do seu peito
Como seus amores foram versos despediçados
Nesta imensa poesia chamada VIDA!