E do pranto nasceu a dor
A mochila nas costas com as roupas do último verão
O orgulho borbulhando nos olhos
Cabeça baixa e coração queimando
Ele fechou o portão de casa e foi-se...
Com o cabelo tingido na semana passada
As marcas vermelhas nas costas e roxas no peito
Despida de roupas e de amor próprio
Com uma sensualidade aterradora
Ela pôs-se a chorar...
Vendo o mundo com olhos perdidos
Deitou-se no asfalto
Pensou nos amigos da faculdade
Quantos kilômetros entre a juventude e o fim do mundo
Ele sentiu o peito arder...
Pôs o disco de blues para tocar
Não conseguia contêr suas mágoas
Borrou o lápis de olho com lágrimas
Arrependeu-se violentamente das aventuras vãs
Ela entrou em desespero...
Lembrou-se vagamente que um dia deixara o mundo pelo seu amor
Deixou o seio de sua família
Por uma beleza entorpecente
Sacudiu o barro da bermuda
Ele voltou a caminhar...
Deitou-se tonta no sofá quase sufocada pela dor
Puxou ar, mas engasgou-se com o pranto
Chorou sua melhor canção
Mas o rosto dele não saia da sua frente
Ela sucumbiu...
Tonto, cruzava as pequenas ruas de parelelepípedos sem destino
Entrou no bar, tropeçou num taco de bilhar
Arrastou-se até o balcão
Pediu uma bebida
Ele não sabia se o peito ardia pela cachaça ou pela traição...
Não tinha mais certeza de nada
Escorria seu veneno por entre as pernas
Com as mãos tremendo pegou o telefone
Discou como pôde
Gritando por dentro
Ela ficou muda...
Ele, embriagado, não atendeu o telefone ao primeiro toque
Com o ar lhe faltando nos pulmões
Com a compaixão lhe faltando no peito
Pôs a mão no bolso
Ele pegou o telefone...
Ela de uma lado, Ele do outro
Do outro lado da linha,
"EU TE AMO!"...
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