Universo Paralelo

Num passado distante o destino nos deu uma pincelada
Um amostra grátis do que somos ou éramos
Como um vil traficante que induz e seduz sua vítima
E a envolve com seus entorpecentes

O destino foi bom comigo
Me permitiu numa pitada de tempo ter seus lábios
Colou seu calor em meus sonhos
Mimeografou seu sorriso em minhas retinas
Gravou sua voz em meus tímpanos
Afogou seus olhos em minha alma
Envolveu sua língua em meu mundo
Bom até demais...

O destino foi um carrasco comigo
Permitiu que minhas vãs idéias naufragassem sua linda nau
Causou dúvidas ínfimas por causa de uma juventude inconsequente
Amarrou meus pulsos e com suas navalhas rasgou meu rosto
Jogando em minha cara todos os delitos
Dolosos ou inocentes
E entre meus aneis ví você partir pra sempre
Sempre?? Não...

Então comecei a imaginar um lugar que poderia chamar de Universo Paralelo
Onde viveríamos nós dois
Como pudemos (ou posso) idealizar, criar, fantasiar

Um mundo sem preconceitos, castrações ou possessividade
Em campos onde nossas ninfas brincam de amar
E amam sem brincar
Do alto do nosso castelo, a nossa felicidade
Onde o sexo é sagrado e profano, viril e envolvente

Um sonho insonhável, ludicamente capaz de me levar pra o seu lado
E poder mostrar de verdade o homem que você merece ter
Não que eu esteja a altura de tal dádiva
Mas só desejei beijos entre pingos de chuva
Relva coberta de pêssegos
Apenas não pensaríamos em nada de ruim
Nada de ciúmes, nada de medo, nada de nada
Não mereceríamos essa leviandade

Um lugar aconchegante, um passeio de língua sobre a pele
Orgasmos alimentariam nossas almas, desejo como entrada, beijo de sobremesa
Furor pela manhã, devassa ao meio-dia, olhares à noite
Colados de suor escutaríamos a primeira flor da primavera perdir sua permissão para desabrochar
Uma vez que tens toda a beleza da natureza em sua face, e rosa nenhuma ousaria roubá-la
E convicto estou que poemas não te faltariam
Pois poeta viveria a ser seu, nosso, pois acabaríamos por nos fundir

Aterrisando desse melancólico vôo e volto à vida fútil
Me contento com a distância
Que física nada significa
Mas mesmo assim vivo longe dos seus abraços

E dentro das minhas costelas divido a frustração e o desejo de te ver numa vida feliz
Com filhos e casa limpa, no SEU trono, com SEU rei
Desejo-lhe toda a essência que não pude te passar (ou te sugar)
Por culpa do destino, enfim...

Apenas, seja feliz!!